Maria da Conceição Ferrão
"Nunca tive filhos porque o meu marido tinha uma
doença, então toda minha vida de solteira e casada foi a servir. Fui servir
para Lousado, já era casada. A casa onde eu servia, tinha um casal de doutores,
3 filhos, 50 gatos e o que se segue, eu tinha de fazer o comer para os
doutores, depois para os gatos e só depois eu, pois bem, nunca chegava para
mim. Eu tinha lá uma bebida que era vermelha que é groselha e eu bebia e era comeu
comer. Em 8 dias comi uma malga de sopa, sentava-me no chão com as pernas
traçadas e foi assim não comi mais nada, ela nunca me perguntou se eu comia. O
meu marido estava no D. Manuel II pois estava doente e ela prometeu-me que se
eu fosse para lá trabalhar que eu ia vê-lo dia sim, dia não. E então eu
perguntava-lhe e ela dizia sempre que não e no fim de 3 dias seguidos disse
sempre que não.
Ao domingo, é que eu tinha de
esfregar a entrada da rua e então eu disse-lhe Sr.ª Dr.ª eu hoje quero ir ao
hospital que esta semana ele não sabe onde eu estou, e então ela disse-me que
não, hoje não, tem de fazer o jantar que temos visitas, pronto eu comecei a
chorar e então quando cheguei lá tinha muita loiça suja para lavar e fui lavar.
E ela não havia meio de me dizer para me arranjar para ir ao hospital. E comer?
Nada. Estava a arrumar e entretanto bateram à porta e ela viu que era o meu marido,
porque ela estava a escrever e não me deixou ir à porta, disse para não ir que
ia ela, ela foi e disse que eu não ia porque tinha de fazer o jantar, ele pegou
e foi embora. A semana a seguir toucou a campainha e eu fui abrir e ele
disse-me Ó mulher tu ainda tás assim? Tu
há uma semana e ainda não me foste ver? Tu não te interessas por mim? Ele disse
tira isso (avental) e fomos para Campanhã para o comboio os dois. Viemos os
dois e eu ri-me muito, tava tão nervosa que tanto que chorava como ria. Ele
dizia-me para não me afligir porque não voltava para lá."
D. Emilia Machado
D. Emilia Machado
Olhe, os filhos começaram a crescer, eu trabalhava, trabalhei primeiro, quando era solteira, trabalhei porque, para sustentar os filhos e já a minha falecida mãe me ajudava muito, e eu estive empregada numa secretaria de um colégio Camilo Castelo Branco, quando passo lá ainda me faz doer o coração, e depois eles, os alunos não é, tinha alunos para ser um colégio tinha que ter alunos mas não era internos era externos e eles eram chatos, chatos, eu passei tanto por causa daquilo e o meu marido entretanto faleceu, faleceu á muito anos, para mim foi um problema, foi um, choque. Os meus filhos lidaram bem, eram pequenos, mas já trabalhava e claro tive de aceitar, estava claro, foi uma coisa que surgido ele também não tinha culpa, eu tenho uma rapariga que é Filomena, a outra é é, Maria Isabel, Maria Manuela, tenho um filho que é Rui Manuel, outro que é Carlos Alberto e outro que é Rui, já disse Rui.
O outro é José Carlos não é? Olhe, não sei agora, o que está mais perto é o rui, mais perto de mim, eu moro com a minha filha Isabel e a minha Maria Manuel vai casar.
E que idade tem a filha que vai casar? Ai olhe, não sei, mas essa era a mais nova e outra, que á Filomena a do meio, a mais velha parece, e a outra que é a Isabel também está lá, trabalhar. A Filomena está na frança com o marido e tenho lá, netos, nunca lá fui, entretanto o meu marido faleceu e eu nunca fui mais para mais nenhum sítio. Se pudesse, então não queria, ela ainda á pouco tempo veio, tem cá uma filha, a estudar , na universidade, só tem um filho e um a filha, Catarina e o filho, que fui que o criei também, fui eu que criei os meus netos quase todos .
Eu tinha pena, e pronto, criei quase tudo.
Foi você que quis vir para aqui? Eu é que quis vir para aqui, fui eu que disse, eu disse para ela vir aqui ver e ela veio e eu fiquei, gosto porque olhe eu, gosto e outras vezes não gosto, eu penso assim, tenho uma, as filhas estão a trabalhar, todas, uma braga, eu as vezes sou patareca, uma está em frança, outra esta, a Maria Manuela está a trabalhar num escritório e a Isabel, está numa loja que vende de tudo, quase tudo. Estou feliz aqui.
Foi você que quis vir para aqui? Eu é que quis vir para aqui, fui eu que disse, eu disse para ela vir aqui ver e ela veio e eu fiquei, gosto porque olhe eu, gosto e outras vezes não gosto, eu penso assim, tenho uma, as filhas estão a trabalhar, todas, uma braga, eu as vezes sou patareca, uma está em frança, outra esta, a Maria Manuela está a trabalhar num escritório e a Isabel, está numa loja que vende de tudo, quase tudo. Estou feliz aqui.
Sr. Miguel
Estive
no hospital por causa do dinheiro que me roubaram, que paralisou os braços, pernas,
não falava, um género de AVC. Mas recuperei.
Um
momento bom foi quando estive na tropa, andei em leiria, eletricista de
automóveis, carros de combate. Um momento mau foi que me estragaram a vida, o
casamento, de terem roubado o dinheiro do banco, e roubaram me tudo e fiquei
sem nada, há estava casado há 36 anos, casei em fevereiro e em Abril fazia
anos. Foi a minha mulher que me roubou, fiquei com 1.75 euros. Como deu a
volta? Fui a tribunal e eles, e ficou tudo para ela, só fiquei com a roupa que
estava vestido, o dinheiro que tinha fiquei sem nada, estou divorciado á cinco
anos, tenho filhos 2 rapazes e uma rapariga, um com 36 o outro com 29 e a
rapariga com 28. Eles proibiram de estrar comigo, o tribunal. Não mantenho
contacto com eles, absolutamente nada.
Dormi
á volta de 4 meses de inverno num banco de jardim, amigos que me desenrascaram
comprei um estrado porque não cabia a cama, e um colchão e fui dormir para a
casa de um amigo, pagava-lhe. Depois vim aqui, veio aqui um colega meu e fiquei
aqui. Agora moro em Calendário, moro sozinho. Tive em Trás dos Montes,
trabalhei num empreiteiro em eletricista, foi sempre a mesma área, estava a
reparar as máquinas levantava-me muito cedo e andava assim, tinha pessoas
amigas lá que encontrei e ficava lá, não vinha a casa, só de mês a mês, estou.
Feliz aqui, fez bem vir para aqui.
D. Lurdes
A minha vida foi um romance,
trabalhava como uma negra, e sei trabalhar de tudo, cozinhar, fazer bolos,
passar a ferro. A minha infância foi muito rui de roer. Tive muitos filhos 14 mortos
e 6 vivos. Passei muita fome, mas não deixei morrer à fome nem à sede, tinha
gente que me ajudaram a muito, padre Veloso e a irmã.
O Senhor doutor disse-me assim, esta
menina cá no porto não tem convento, tem em Coimbra porque as janelas cá do porto
são baixas e as de Coimbra são altas, e as crianças atiram-se cá baixo e uma
pessoa não á por ela, foi sempre doentinha desde que nasceu ate ter 18 anos. Então
traga a menina porque a alimentação que está a dar está a fazer bem, porque não
há cá mulher nenhuma, e a senhora é pobre não tem dinheiro e não pode trazer
para cá porque é de Famalicão e é muito para cá, ela faleceu aos 18 anos. Ela
não falava, era muda. A minha mãe tomou conta dela porque depois comei a ter
muitos meninos.
D.
Fernanda
São coisas que nunca se esquece, tive uns
pais maravilhosos. Tive uma infância maravilhosa, tinha tudo, era uma menina
mimada, às vezes vinha para cá para fora, e com as criadas. Sou da altura do
pião, mas gostava de aprender mas nunca aprendi, e uma coisa que aprendi foi
tocar piano, tocar acordeão, tirei o curso de conservatório, tive no colégio em
vila nova de gaia, aprendi a bordar, fazer croché, quando tive doente da cabeça
foi porque as minhas filhas tiveram um acidente e fiquei maluca , e ai fiquei ,
e de que maneira , nem falo disso , tinha criadas só ara brincar comigo , para
andar de bicicleta.
Zanguei me uma vez com a minha irmã, por
fazer uma boca grande e a minha era mais bonita do que a dela.
Fazia muitos bailes, em casa mas os meus pais sempre com os olhos em cima, nos meus anos também fiz uma festa, quando fiz 18 anos, a gente era apresentado á sociedade, a minha despedida de solteira também foi uma festa grande e bonita, e depois veio mais, veio o meu casamento.
Fazia muitos bailes, em casa mas os meus pais sempre com os olhos em cima, nos meus anos também fiz uma festa, quando fiz 18 anos, a gente era apresentado á sociedade, a minha despedida de solteira também foi uma festa grande e bonita, e depois veio mais, veio o meu casamento.
Casei e fui para Africa, levei o vestido, e
depois foi o nascimento das minhas filhas. Tenho três filhas a minha mais velha
está formada em finanças, a do meio, teve ataque meningite mas graças a deus já
esta curada a outra, formou-se á custa dela não quis que o pai pagasse, está
formada em letras, e depois foi hospedeira num lar. Um momento mau foi a perca
dos meus pais a perca do meu marido, e por aí, e quando a minha filha do meio,
teve a meningite, com seis meses, foi momentos mais pesados. Fui eu que estava sozinha,
fui eu que tratei de tudo. Não desgosto disto, aqui é quase a minha família.
Gosto de brincar, gosto muito de cantar que agora não posso dançar e agora pronto,
e gosto de passear com elas, não me dou presa, são os nervos, sou muito nervosa,
muito nervosa. A
doutra, elas sabem da minha vida, já pensei escrever um livro. As minhas filhas também já disseram para fazer
isso. Elas não me deixam trazer as fotografias do álbum do casamento, o pai
estava em angola e elas ficaram com elas, nem deixavam mostrar, outra coisa que
elas fizeram foi um quadro grande com as fotografias juntas.Elas vivem independentes, dei-lhes a
casa, o terreno, a quem havia de deixar a casa tenho três, e uma doente, a Paulinha.
Aqui á tempos, penso que foi a semana passada, escorreguei e fiquei com a vista
toda vermelha, e parecia estar a deitar sangue e tinha que deitar alguma coisa
e ela foi buscar, e a minha Cristina, encontrou-me a chorar, e isso é uma coisa
boa, e uma coisa que não esperava dela, e andavam muito tempo desviada de mim
por causa do pai.
Elas
fazem a vidinha delas, a mais velha também já tem 51 anos, já não é nenhuma
criança. Quando ela esta com o “ tau” ela teve uma depressão nervosa a estudar,
e ela disse que ia passar férias mas eu disse não vais a conduzir, não, vai o
“namorico”, só lhes peço a elas para não arranjar nenhum casado, não “
escangalhais “ o casamento de ninguém porque a mim “lixaram-me” por causa dessa
coisa.
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